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AUSÊNCIA

Insisto que venhas comigo, ainda hoje.
Insisto em mantê-lo junto a mim.
Insisto em cruzar nossos caminhos.
Insisto em explicar a razão.

No entanto...

Explicar a razão é gesto vazio.
Caminhos seguem juntos sem nunca se cruzarem.
Posso mantê-lo junto a mim... A um canto distante do mundo.
Mas insisto... Venha reforçar-se pela ausência.

Insisto em não descrever os sentimentos.
Insisto em não revelar os acontecimentos.
Insisto em perder tempo com novas mentiras.
Insisto em não fugir ante essa nova poesia.

No entanto

Os fragmentos também são poesias.
De um existir que se constrói no equívoco.
Sem criação ou morte, sem revelar o poema.
Com um sol estático que nada ilumina, nada aquece e nada sente.


Insisto que se achegue mais, que fique mais perto.
Insisto que penetres incondicionalmente em minha alma.
Insisto que não afaste de mim essa tua imagem.
Insisto que nos tornamos sós e mudos. Pura contemplação.

 No entanto...

 A contemplação desperta palavras adormecidas pelo tempo.
E a imagem se dissimula, zomba com mil faces de nossas misérias.
Transfigura a alma inquieta, ansiosa por respostas.
Mas as respostas são cifras, são códigos que só afastam os caminhos.






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